Essa noite fui chamado ao hospital para avaliar um paciente com sangramento na região cervical após ele ter sido submetido a uma cirurgia chamada de Esvaziamento Cervical. Essa cirurgia faz parte do tratamento de câncer de cabeça e pescoço, minha especialidade. Não consegui entender como aconteceu isso, pois até então, após inúmeras cirurgias, não tive ainda essa complicação. Mas descobri que o paciente não era meu. Como assim? Sou o único especialista (certificado e com residência específica) nessa cirurgia no hospital em questão! Lembrei então que há 1 ano fui chamado para avaliar um caso de rompimento do esôfago após uma cirurgia da glândula tireóide. Também não era minha paciente. Mas como? Eu sou o único especialista nessas cirurgias na região e, mesmo assim, elas são realizadas por outros médicos? Analisando os dois casos, descobri que a situação comum entre os pacientes é que ambos eram particulares e, sem pensar muito, lembrei do caso do famoso Dr. Bumbum e de outros que escuto e vivencio diariamente. Começo a entender a orientação dos meus colegas cirurgiões plásticos, quando alertam a população de que o médico tem que ser especialista, tem que ter residência médica. Mas quem são os pacientes sob maior risco? Sim, os pacientes particulares. O SUS, apesar dos seus problemas, exige que o médico seja especialista, com formação comprovada para atuar naquela área. Os convênios pagam pouco e o procedimento não compensa a atuação dos “estelionatários da medicina”. Atuação esta que só tende a aumentar, com a formação em larga escala de profissionais despreparados. Esses vendedores de medicina têm, normalmente, muita habilidade com as palavras e conseguem enganar facilmente, com propagandas no Facebook ou postando fotos na frente de congressos médicos com um crachá na mão, da mesma forma que faz um vendedor desonesto de qualquer quinquilharia ou um político corrupto. E os pacientes particulares são o “filão do mercado”. Resta a você, paciente, perguntar ao seu médico e analisar o currículo dele em relação a cirurgia proposta. Não é por acaso que um médico treina incessantemente uma determinada área, faz residência médica e participa de sociedades na especialidade em que atua. Não escolha seu médico pelos posts dele nas redes sociais ou pelo preço. As exigências brasileiras e mundiais de qualificação profissional não foram criadas por acaso. Pense nisso.
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CIRURGIA DE GLÂNDULA TIREOIDE
CONTATO
(51) 3011-0909
PRÉ OPERATÓRIO:
Na maioria dos casos, somente uma ecografia da região cervical é necessária. Essa ecografia pode ser acompanhada de uma punção para análise das células (PAAF). A tomografia com contraste é indicada somente quando se suspeita de lesões maiores ou invasivas ao exame físico e pode auxiliar no diagnóstico de linfonodos (“ínguas”) na transição da região cervical com a região torácica. A cirurgia é realizada sob anestesia geral, necessitando, portanto, exames específicos para análise do risco anestésico de cada paciente.
TRANSOPERATÓRIO:
Além dos riscos inerentes a qualquer procedimento cirúrgico, a cirurgia da Tireoide tem seus riscos específicos.
A Glândula Tireoide é um órgão extremamente vascularizado, podendo ocorrer sangramentos no período pós-operatório imediato (primeiras 12-24 horas). Durante o procedimento cirúrgico, esse sangramento é irrisório se a cirurgia é realizada por um cirurgião especialista. O sangramento pós-operatório acontece em 1-2% dos casos, e normalmente exige reintervenção cirúrgica.
A glândula Tireoide tem uma relação anatômica posterior com os nervo laríngeo inferior e as glândulas Paratireoides. O nervo laríngeo inferior é o principal responsável pela movimentação dos músculos das cordas vocais e pode ser danificado durante essa cirurgia. Didaticamente, esse risco gira em torno de 2-3% dos casos, mas pode ser muito menor com a capacitação do cirurgião. O paciente afetado pode ficar com uma voz rouca temporária ou definitivamente.
As glândulas paratireoides ficam localizadas na face posterior da glândula tireoide, usualmente duas de cada lado. Medem aproximadamente 0,5cm e são responsáveis pela produção de um hormônio, chamado Paratormônio, o qual participa da regulação do Cálcio no sistema sanguíneo. O Cálcio é fundamental para as contrações musculares. O procedimento cirúrgico pode levar as glândulas a um funcionamento inadequado, diminuindo o Cálcio sanguíneo (hipocalcemia), fazendo-se necessário o uso de medicações no período pós-operatório. Esse quadro acontece de forma variada na literatura, chegando até a 40% dos casos. Felizmente, na maioria dos pacientes, essa condição é transitória, com as glândulas retornando ao seu funcionamento ideal em torno de seis meses. A correção desta condição exige a reposição do cálcio pelo paciente pela forma de comprimidos tomados diariamente.
PÓS OPERATÓRIO:
O período pós-operatório da Cirurgia de Tireoide é bem aceito pelos pacientes. Pouca dor é esperada. A cirurgia é considerada mais delicada do que propriamente extensa. O Período de internação gira em torno de 24 horas. Atualmente, o uso de dreno após a cirurgia vem diminuindo substancialmente, mas ainda é necessário para glândulas de grande volume. A infecção da ferida operatória e o acúmulo de secreção chamado seroma não são comuns, mas podem ocorrer. É vedado ao paciente realizar exercícios físicos vigorosos pelo período de 10-14 dias. Após isso, o paciente pode retornar as suas atividades normais.
A cicatriz cirúrgica é dependente de uma série de fatores, porém é bem mais tênue do que no passado, pela diminuição do tamanho da incisão pelos cirurgiões de cabeça e pescoço. Em média é uma incisão de 4-5 cm em forma de colar na região central e inferior do pescoço. Obviamente, para glândulas maiores, a incisão tem seu tamanho aumentado. Fatores de cicatrização do paciente podem colaborar ou não com o resultado estético, tornando algumas vezes a cicatriz quase imperceptível.
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